quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Súplica à tormenta

Ó céus calamitosos que trovejam,
eu imploro vossa graça!!!
que a força dos teus ventos
corra nos meus cabelos,
e a tormenta acalme meus anseios
pois meu coração nao cabe mais no peito
de ansiedade por grandes feitos
pela glória maior
que na guerra não se encontra...
o amor da jovem donzela,
que não conhece do amor mais que o nome
e espera da vida, que um dia chegue!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O rato

Eu durmo tarde. Quero dizer cedo. Adoro as madrugadas. É normal para mim dormir depois do sol nascer. Relativamente comum. Costumo ficar deitado vendo filmes até pegar no sono, por vezes até escrevendo ou fazendo outras coisas desse tipo. Um dia desses, quero dizer, uma noite dessas, me levantei para beber um pouco de água. Muita pipoca, estava com sede. Ao abrir a porta do quarto me deparei com uma sombra com rabinho correndo pra trás do fogão. A porta da cozinha estava aberta, e acho que enquanto eu olhava de um lado do fogão, a sombra fugiu pelo outro. Mas eu sabia o que era. Era um rato. Já faz alguns dias havíamos percebido um rato morando no esgoto do nosso prédio. O sacana era abusado, e às noites ele saía pra passear pelo térreo, e por vezes até subia a escada pro segundo andar. No começo era até divertida a gritaria quando alguma damisela desavisada e incauta topava com o terrível roedor. Mas agora era diferente, ele tinha entrado na minha casa, eu não entrava na dele, e ele tinha entrado na minha casa. Certifiquei-me de que ele realmente tinha ido embora, fechei a porta e coloquei um pano no vão entre ela e o chão. No dia seguinte encontrei o pano deslocado. Mas não inteiramente, como se alguém tivesse aberto a porta, mas apenas a ponta dele, evidenciando que o desgraçado tinha entrado pra fazer das suas. Havia uma panela com óleo velho de fritura semi-entornada, uma sujeira danada no chão, e um cheiro forte de urina. Puxei o fogão de lado e confirmei o que eu já sabia. Estava cheio de cocozinhos por todo lugar. Frente à inutilidade do pano, encaixei um pedaço de pau na soleira da porta da cozinha, e do meu quarto também, já antevendo a possibilidade dele entrar em algum momento em que a porta estivesse aberta, como é de costume. O pedaço de pau não era exatamente perfeito para a função, pois tinha algumas reentrâncias, e como é sabido, ratos se espremem por qualquer lugar. Coloquei então o tal pano também, para me certificar de que ele não entrasse. Falei com a administração sobre o caso, pedi q fizessem uma desratização, e, um pouco por protesto, um pouco por piada (sim, eu ainda conseguia rir com a situação), desenhei um Mickey dentro de um círculo vermelho com uma tarja por cima, e preguei do lado da porta. Sendo os ratos inteligentes como dizem que eles são, imaginei que o bastardinho entenderia o significado da coisa. Proibida a entrada de ratos. Mas ele não entendeu. Encontrei novamente o pano deslocado na manhã seguinte. Não sabia mais o que fazer, e não havia esquecido nem um pouco as lições de minha mãe. Sem falar que o miserável começava a me deixar seriamente irritado. Ele não roia nada, não comia nada. Só entrava, cagava, mijava e ia embora. Eu não fazia isso na casa dele, então porque ele fazia na minha? Foi então que eu tive uma idéia. Muito simples na verdade, mas provou se efetiva. Prendi as duas pontas do pano na própria porta, de modo a que se ela estivesse fechada, não fosse possível empurrar o pano. Por alguns dias, e noites, tive paz. Não encontrei mais sinais de que ele pudesse estar nos visitando durante as madrugadas. Pude enfim, dormir sossegado e esperar a tal desratização.
O que nos leva ao dia de hoje. Ou melhor, à madrugada de hoje. Lá pelas cinco da manhã, após assistir alguns filmes, decidi dormir. Tão logo comecei a ajeitar minha cama, escutei barulhos na cozinha. Tão altos que imaginei que o meu colega do outro quarto pudesse estar acordado, preparando alguma coisa, sendo ele quase tão madrugador quanto eu mesmo. Mas os sons pareciam erráticos, sem ritmo. Não pareciam com o ruído que alguém cozinhando ou lavando louça ou fazendo qualquer atividade típica da cozinha pudesse fazer. Lá dentro, bem no fundo, sabia que era ele. Abri a porta, peguei um pedaço de pau que havia deixado preparado especialmente para essa ocasião, e olhei pra cozinha. Subindo pela mangueira amarela do gás, lá estava ele, com seu rabo comprido e sua pelagem cinza. Numa fração de segundo, ele estava lá e logo tinha se enfiado dentro do forno. Olhei para a porta, vi o pano todo bagunçado num canto. Alguém tinha entrado e não tinha se preocupado em colocá-lo de volta. Sabia, era ele mesmo, e não me daria paz. Enquanto ele vivesse, eu sabia que estaria irremediavelmente preso à paranóia de lavar cada talher ou louça que fosse usar, antes de usar, mesmo que já estivesse limpo. De nunca poder apoiar nenhum alimento em nenhuma superfície, porque eu nunca saberia se ela estava limpa ou se ele tinha passeado por ali naquela noite. Todas as palavras da minha mãe ecoaram em minha cabeça. As doenças. Todas elas. O imaginário sobre eles. Tudo. Não tinha escolha. Era eu, ou ele. Tinha que matá-lo. Como meus antepassados, segurei com firmeza aquele pedaço de pau, aquela arma, e esperei. Fiquei em silêncio, esperando ele sair para triturar seus miolos, mas ele não saiu. Mexi um pouco o fogão com a ponta do pau, e senti ele fazer barulho dentro. Abri um pouquinho a porta do forno e soltei, e novamente ele se agitou lá dentro.
Foi aí que eu comecei a perder o controle. A figura do hominídeo com tacape se insinuava na minha mente inconscientemente. Acariciei o pedaço de madeira na minha mão e comecei a desferir golpes nas laterais do fogão, mas o dentuço não saia. Cantarolei canções de escárnio e fiz provocações baratas, mas ele não saiu. Penso agora que provavelmente ele estava com medo, mas no momento só conseguia imaginar que ele estava me sacaneando. Peguei um palito de fósforo. Se o tacape não resolvia meus problemas, talvez um dos mais antigos aliados do homem resolvesse. Acendi o forno. O fogo ia expulsar o danado de lá, mais cedo ou mais tarde. O ódio ardia nos meus olhos, bombeava sangue pra todo meu corpo, a adrenalina me mantinha atento, e eu permanecia ali, de prontidão, como um felino pronto pra pular sobre sua presa. Sentei-me calmamente e esperei. O fogo ia fazer o serviço. Se ele não saísse, morreria assado. Não demorou muito, mas pareceram horas, e ele pôs o focinho pra fora, investigando o cenário me viu, me encarou por com seu pequeno grande olho preto arregalado, e se escondeu novamente. Não tive tempo de nada, mas a cena do crânio rachado passou pela minha cabeça. Esperei mais um pouco, e ele não agüentou. Saiu se dirigiu até a porta correndo, sob uma chuva de cacetadas, percebeu que ela estava fechada, deu meia volta e correu pro outro lado, pra pequena área de serviço que tem no final da cozinha. Ele era rápido, devo admitir, e apesar da minha prontidão, me pegou de surpresa. Meus reflexos não são os melhores as seis da manhã. Se escondeu atrás do tanque, onde não tinha como atingi-lo. Fiquei espezinhando seu rabo pra ver se ele saía. Saiu. Correu, driblou, passou no meio das pernas e correu pra porta de novo. Ele podia ser rápido, mas não era assim muito esperto. Fui atrás dele, tentei novamente acertá-lo mas ele se desviava correndo em minha direção, e eu não queria acertar meus próprios pés. Voltou pra trás do tanque. Eu estava ofegante. O coração disparado bombeava sangue pro meu cérebro e meus músculos. Os pulmões se contorciam para manter esse sangue o mais oxigenado possível. Uma fúria cega tomava conta de mim. Eu arfava, rosnava, grunhia, como um homem das cavernas, um cão selvagem. Mostrava os dentes. Foi então que percebi o sangue. Haviam manchas vermelhas, vivas muito fortes, como rubis, na parede de azulejos. Olhei o chão ensangüentado e percebi. Definitivamente, ele estava ferido. Um sorriso se formou na minha boca. Espezinhei o atrás do tanque e ele fugiu, novamente, repetiu o processo, me driblou e correu pra porta. Fui atrás dele e se escondeu atrás do fogão. Acertei-lhe uma bordoada no costado, e o pequeno demônio se escondeu embaixo da geladeira. Sacudi-a pra lá e pra cá mas ele permaneceu lá. De vez em quando botava sua fucinha pra fora e me olhava com terror. Eu agora era o senhor da guerra, um guerreiro viking em frenesi, a própria reificação da morte. Ele tentou fugir subindo por trás da geladeira. Eu o vi. Enquanto ele, já desorientado e confuso, decidia o que fazer, eu levantei meu braço e desferi o golpe certeiro. Ele caiu no chão e ficou deitado de lado, me olhando com seus olhos pretos. Lembrei-me das malditas baratas, e de como elas fingiam a própria morte para escaparem depois. Ele não parecia tão ferido. Estava deitado, imóvel, de lado, mas ainda não estava morto. Ergui o tacape e destrocei sua cabeça. Um olho deixou de existir, e o outro saltou fora do outro lado. Eu nasci homem, ele nasceu rato. E agora ele ficou ali, morto.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Oferenda

Longe, muito longe daqui, existe um templo,
nas províncias mais distantes do tempo,
depois das montanhas brancas e imortais,
perdido entre prados e colinas verdejantes,
por caminhos onde nenhum viajante põe o pé.
Nesse templo queima o fogo sempiterno,
e inabalável permanece, como as montanhas,
e como elas, o próprio céu parece sustentar.
É nesse templo que faço minha oferenda,
a ti, minha amada senhora do escuro, das trevas
e da luz do fogo que sem elas não há.
Ao pé do fogo te ofereço meu chá,
bem como meu ombro e meus braços,
sustento do meu punho e minha pena.
Te ofereço minhas palavras e meu canto,
e tudo aquilo que eu tiver de melhor,
quando o quiseres, a qualquer momento,
sob qualquer circunstância, será teu.
Pois sempre que vieres, será o que Tu quiseres.
E tua vontade será A Lei.


são carlos, 22/06/09

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O farol (Inverno)

Olhou o prato vazio mais uma vez. Com um pedacinho de pão, enxugou um último resto da sopa. Tirou a água do fogo e se serviu um chá. Lá fora o vento soprava com violência audível, e os lobos uivavam ao longe. Apesar da janela estar completamente coberta pela neve, podia sentir que a nevasca passara. Deu duas pancadinhas com o nó dos dedos nos grossos vidros da janela, o suficiente para a fina camada de neve se desprender. Mais um pequeno tranco no batente, e já se podia enxergar a branca paisagem lá fora. Como ele imaginava, o farol apagara. Entrou no vestíbulo, vestiu apressado o grosso colete de lã, e o casaco por cima de tudo. Colocou o gorro e se enrolou no cachecol. Amarrou firmemente a touca do casaco, enfiou-se nas luvas e abriu a porta. Agora o vento uivava nele. Sentiu um calafrio na espinha, e afundou as grossas botas até quase o joelho na neve. Deu mais alguns passos, e antes de começar a amaldiçoar seu destino, decidiu pensar positivo. Graças a Deus, pensou, acabei de jantar, tomei meu chá e estou quente o suficiente, e com energia para ir até o farol cumprir meu dever.

O farol ficava a uns cinqüenta metros da cabana. Cinqüenta metros forrados de neve, açoitados por um vento que fazia com que parecessem quilômetros. Percorreu cada passo da ida com um pensamento feliz, lembrando seu pai e como ele falava com tanto orgulho da profissão da família. Seu coração batia feliz, apesar do vento. O pensamento em seu pai sempre o alegrava, mesmo nas horas mais tristes. Praticamente se arrastando devido ao vento, finalmente chegou a torre do farol. Devia ter seus trinta metros de altura, pura pedra empilhada. No topo estava o farol, que alumiava as perigosas águas do cabo para os navegantes. Subiu os primeiros degraus agarrando-se aos restos de corrimão que ainda resistiam presos à pedra. Era uma escadaria em espiral que serpenteava em torno da torre. Alguns degraus estavam meio soltos, fazendo com que a subida fosse em alguns pontos uma verdadeira escalada. Faltavam algumas horas para amanhecer, talvez não fizesse falta se não o acendesse. Havia subido uns quatro metros quando escorregou. Por sorte, a nevasca que caíra a pouco tinha forrado o chão com uma neve fofa, que ainda não endurecera. Foi o que o salvou. Sentiu o pé faltar com o apoio, e instintivamente se agarrou ao velho e desgastado corrimão, que não agüentou seu peso e se desprendeu da parede. Caiu como um peso morto, e sentiu cada centímetro passando como uma eternidade. Olhou pros céus, negros como a asa do corvo, e fechou os olhos. Sentiu-se afundar num colchão gelado e úmido, enquanto atravessava a camada de neve que o separava do chão, e de repente não soube mais nada.

Acordou com o apito grave da buzina do navio. Ergueu-se rapidamente do seu leito gelado e olhou pro mar. Ao longe via-se uma pequena luz de navegação. Sem o farol aquele navio não sobreviveria. Ficou de pé, apenas pra sentir uma dor enorme no tornozelo. Provavelmente estava quebrado. Se arrastou de volta pra escada e recomeçou a subir. Tentou mais uma vez ficar em pé, mas não conseguiu. Ironicamente, descobriu que subir engatinhando como um bebê era mais fácil do que subir de pé. Foi subindo rapidamente, até chegar na face da torre que era mais castigada pelo vento. Ali as coisas se complicaram. Não tinha como se segurar do corrimão, e o vento o desequilibrava de tal forma que achou que cairia de novo a qualquer instante. Mas aos poucos conseguiu chegar ao topo. O navio soava cada vez mais perto, e muito em breve estaria na zona onde sem um farol o seu destino seria funesto. Arrastou-se até o farol, colocou combustível e acendeu-o. Sentou-se encostado a parede e sorriu. Seu pai estaria orgulhoso se o visse agora. Tinha cumprido sua missão, mesmo nas circunstâncias mais adversas.

Respirou fundo. Tinha agora que preocupar-se em como ia voltar pra cabana. Suas roupas estavam encharcadas da neve, e com esse vento, logo ia congelar se ficasse ao relento. Ironicamente, descobriu que se para subir era mais fácil engatinhar, descer da mesma forma era praticamente impossível. O vento entrava pelas janelas e penetrava nos ossos. Aos poucos ia se sentindo cada vez mais frio. Um tremor passou pela sua pele. Teria que descer de qualquer forma, ou o frio roubaria suas forças e faria impossível a descida. Abriu o casaco e rasgou um pedaço da camisa, com o qual enfaixou o tornozelo, que já inchara bastante, embora não mais doesse. Apertou bem a bota por cima e ficou de pé. Quase não conseguia apoiar o pé no chão, mas deu o primeiro passo. Agarrou-se novamente aos restos do corrimão e recomeçou a descer, sentindo em cada pisada uma punhalada na própria alma. A noite corria célere, e a linha do horizonte já começava a clarear. Depois de muito sofrimento conseguiu chegar ao chão. Mas aqui a neve não permitia que fosse dando pulinhos num pé só. Teria que levantar a perna, apoiar o peso do corpo num pé só, e afundar o outro na neve. E depois repetir tudo com o outro pé. O pé quebrado. Passo após passo. Se a neve estivesse mais sólida, poderia se arrastar por ela, mas com certeza teria quebrado bem mais do que apenas um tornozelo na queda. Se. Palavrinha complicada. Ergueu o pé direito. Afundou o na neve. Sentiu o frio aliviar sua dor, até tocar no chão. Respirou fundo, e apoiou o peso no pé, erguendo a outra perna. Afundou a na neve rapidamente, sentindo as lágrimas secarem no rosto pelo vento. Com alivio, apoiou o peso na perna esquerda, e levantou rapidamente a direita. Deixou o pé afundar lentamente na neve, aliviando sua dor. Apoiou o peso no pé novamente. Lancinantemente, a dor dobrou seu corpo e o derrubou ao chão. Ficou ali, sentindo o frio o invadir, tomar suas forças, vencê-lo. Tentou se arrastar em direção a cabana, mas não tinha mais forças. Fechou os olhos e lembrou-se mais uma vez do pai, da garota de cabelos dourados que o esperava na aldeia. Sentiu o calor do seu sorriso uma ultima vez. Abriu os olhos e deitou-se de costas. Ele dominava toda sua visão do céu. O farol. Com suas pedras centenárias, olhando a costa vigilante, vendo os navios passarem, com suas cargas, seus passageiros e suas tripulações. O farol. Acesso todas as noites do ano, em qualquer estação. O farol. Fechou os olhos. O farol brilhava na escuridão da noite dividindo tudo com seu facho de luz. Abriu os olhos, e num último esforço se ergueu. Seu pai acendera aquele farol todas as noites, antes dele seu avô. E o pai de seu avô antes dele. Agora era sua vez. Enfiou o pé direito na neve, apoiou o peso e levantou a perna esquerda. Repetiu o processo, ignorou as dores, e prosseguiu. A uns metros da cabana não resistiu e tombou de novo, mas já a neve não era tão alta e pode-se arrastar até a porta da cabana. Ergueu-se mais uma vez e entrou na cabana. Antes de deitar, olhou uma última vez pela janela. Lá fora, o dia raiava. E o farol estava acesso. Deitou-se, respirou fundo, e fechou os olhos. Dormiu.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

New Order / Frente - Bizarre Love Triangle










 New Order - Bizarre Love Triangle






  Bizarre love triangle - Frente





Every time I think of you
I feel shot right through with a bolt of blue
Its no problem of mine
But its a problem I find
Living a life that I cant leave behind
But theres no sense in telling me
The wisdom of the fool wont set you free
But thats the way that it goes
And its what nobody knows
Well every day my confusion grows

Every time I see you falling
I get down on my knees and pray
Im waiting for that final moment
You say the words that I cant say

I feel fine and I feel good
Im feeling like I never should
Whenever I get this way
I just dont know what to say
Why cant we be ourselves like we were yesterday
Im not sure what this could mean
I dont think youre what you seem
I do admit to myself
That if I hurt someone else
Then Ill never see just what were meant to be

Every time I see you falling
I get down on my knees and pray
Im waiting for that final moment
You say the words that I cant say

Los Prisioneros - Por Favor (1986)



Otra vez parada en frente de mí
Mostrando tus ojos con pena
Todo es muy difícil así
Por que hay frases que yo no quiero decir

Tú conmigo planeamos el robo mayor
al amor el crimen no paga
Todo es tan difícil así
Por que hay frases que tú no quieres oir

No me sigas no me llames
es mejor que no me ames
no hagas imposible esta situación
rindámonos, por favor

Tú tan fuerte en abrazarme
Y yo miserable, no puedo hacerte llorar
Oyeme preciosa no hay más
eso era todo y no hay mucho que hablar

No me sigas no me llames
Es mejor que no me ames
No hagas imposible esta situación
Rindámonos, por favor

terça-feira, 28 de abril de 2009

Raul Seixas - A maçã




Composição: Raul Seixas / Paulo Coelho

Se esse amor
Ficar entre nós dois
Vai ser tão pobre amor
Vai se gastar...

Se eu te amo e tu me amas
Um amor a dois profana
O amor de todos os mortais
Porque quem gosta de maçã
Irá gostar de todas
Porque todas são iguais...

Se eu te amo e tu me amas
E outro vem quando tu chamas
Como poderei te condenar
Infinita tua beleza
Como podes ficar presa
Que nem santa num altar...

Quando eu te escolhi
Para morar junto de mim
Eu quis ser tua alma
Ter seu corpo, tudo enfim
Mas compreendi
Que além de dois existem mais...

Amor só dura em liberdade
O ciúme é só vaidade
Sofro, mas eu vou te libertar
O que é que eu quero
Se eu te privo
Do que eu mais venero
Que é a beleza de deitar...

Quando eu te escolhi
Para morar junto de mim
Eu quis ser tua alma
Ter seu corpo, tudo enfim
Mas compreendi
Que além de dois existem mais...

Amor só dura em liberdade
O ciúme é só vaidade
Sofro, mas eu vou te libertar
O que é que eu quero
Se eu te privo
Do que eu mais venero
Que é a beleza de deitar...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Continuo correndo...

continuo correndo
sem lugar para parar
deixei para trás
os grilhões adormecidos
e o gosto adocicado
do sangue coagulado
a liberdade dos pés descalços
doendo nos pedregulhos
e as mãos livres
de correntes

eu não posso perder um beijo
e não quero esquecer um sonho
mas se tenho que esperar um século
aprenderei a ter paciência
"de que me servem os cinco sentidos
se eu só posso te ver e ouvir?"

Aos meus olhos tristes...

Aos meus olhos tristes
junto o lamento da caneta
Sinto que sei tão pouco da vida
que juro que não sei
pra que me serve tanta vida,
se não serve a ,mim
que sou servo e vassalo
d'outros olhos belos,
e incertos , como eu.

Florbela Espanca - Fumo

Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!

Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Joan Manuel Serrat - Poco antes de que den las diez




Te levantarás despacio
poco antes de que den las diez
y te alisarás el pelo
que con mis dedos deshilé,
y te abrocharás la falda,
y acariciarás mi espalda
como un "Hasta mañana",
y te irás sin un reproche,
te perderé con la noche
que llama a mi ventana,
y bajarás los peldaños
de dos en dos, de tres en tres.

Ellos te quieren en casa
poco antes de que den las diez.

Vete.
Se hace tarde.
Vete ya...
Vete ya.

Y en el umbral de mi puerta
poco antes de que den las diez,
borrarás la última huella
que en tu cara olvidé.
Y volverás la cabeza
y me dirás con tristeza
"Adiós" desde la esquina
y luego te irás corriendo,
la noche te irá envolviendo
en su oscura neblina.

Tu madre abrirá la puerta,
sonreirá y os besaréis.
La niña duerme en casa...
y en un reloj darán las diez.



*serrat é e será meu maior mestre...

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Quereres

eu quis ser cego,
pra não te ver sorrir
desse jeito tímido.
eu quis ser surdo,
pra não te ouvir falar
com essa voz macia.
eu quis ser mudo ,
pra que minha voz
não chegasse
aos teus ouvidos
e você não notasse
minha existência.
eu quis não ter te conhecido nunca,
pra ter paz no coração
e poder ser só teu amigo.
mas, nem sempre querer é poder.
ah, como eu queria
que você estivesse ao meu lado
agora.

Polaróides e Daguerreótipos *

Eis as coisas doces e as revoltas
o sal da terra, as trevas e a luz.
Eis aqui entrego a essência...
Pequenos pictogramas coloridos
seriam se outrora houvesse vivido,
mas tudo que amo está no belo,
no belo luz e no belo escuridão
e porque vivo no momento o agora,
então são pequenos fotogramas,
de ontem e hoje, de agora e sempre.
São polaróides e daguerreótipos,
registros ainda mornos do esquecimento,
velhos papéis rasgados, queimados em sépia
instantâneas impressões da beleza da luz.
São o que são porque penso.
Porque penso, sinto, vivo, existo.
Porque amo, porque odeio,
são o sal da minha carne
e eu os entrego, aqui estão...


*nota: poema escrito como apresentação para minha coletânea de poemas do mesmo nome (não publicada)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O inexorável passo do tempo...

o inexorável passo do tempo...
a saudade de algo que vai crescer
o som do silêncio rompendo o silêncio
o melancólico tic-tac apressado relógio
e anoite segue seca quente e úmida
a noite suada e só, a ancestral
sigo teus passos e tua insõnia
a figura esguia duma irmã
o meu corpo junto ao teu, saudade
e a certeza, ao passo do tempo, cresço
cresço, penso e existo, vivo
rompo apressado o melancólico silêncio
o silêncio da noite eterna e ancestral
que permeia o espaço e o tempo
o inexorável tempo da vida...

Daniel na cova dos leões (o coliseu)

E de repente caíram os véus
acenderam as luzes e eu vi
Vi que eu não tinha visto,
o que me negava a enxergar
Abriram as cortinas,
assisti ao show de camarote
E lá embaixo,
o povo gritava gemia chorava
nos meus colegas de platéia
percebi o riso o sorriso e não só isso
Eu vi que eles viam
mas poucos entendiam
que eu me dava aos leões
porque eram os mais nobres
E os tolos, não entenderam…

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A chuva e a Rainha Alessandra

A alguns meses não chovia. Era natural que em certas épocas do ano não chovesse uma gota sequer durante um tempo. Mas desta vez a seca estava durando muito. A terra foi secando aos poucos até ficar dura e rachada. Depois começou a se transformar num pó fino que se espalhava por todos os cantos, deixando tudo ligeiramente avermelhado. Por fim, o sol foi aquecendo cada vez mais, e as noites eram quase tão quentes quanto os dias. As pessoas adoeciam, secavam e morriam, de calor, de sede e de fome. Aos poucos, começaram a migrar para regiões mais úmidas, onde não faltasse a água, nem a chuva. Até que a região se tornou praticamente desabitada.

Só ela ficou. Quando o povo, os nobres, os ricos e os miseráveis se tornaram finalmente iguais, e abandonaram a terra para secar ao sol, ela ficou. Jamais abandonaria sua terra, era seu dever permanecer ali até que a chuva voltasse a cair, e a vida voltasse a surgir do pó seco. Caminhava pelo palácio enorme e vazio, e o silêncio reinava absoluto por entre as torres e corredores, arcos e colunas. Nem um pio de pássaro se fazia ouvir, nem um grilo ao anoitecer ou um galo pela manhã. Silêncio e pó seco, esse era seu reino agora.

Reinava uma terra consumida pela seca. Tudo nela agora era seco. Sentia seu corpo seco, sua alma seca, sua vida seca. Sua pele, outrora fresca e viçosa, agora estava ressequida, rachada e envelhecida. Jamais sentira tanta vergonha, tanta impotência. Ela, orgulhosa e bela como a águia que patrulhava os ceús, agora estava diminuída pela secura. Aos poucos ia ficando como o mesmo pó que se impregnava no seu ser, colado suavemente na pele seca. Jamais sentira tanta falta. E com o palácio deserto era ainda pior. As vezes se aventurava pela cidade, entrava nas casas, nas ruelas, nos jardins. Nunca sentira tudo tão seu, nem nunca se sentira tão só.

Seu coração estava agitado. Sentada numa das janelas do palácio, assistia ao mais belo pôr-do-sol que jamais vira. As fortes rajadas de vento que corriam ao fim da tarde, levantavam quantidades enormes de pó na atmosfera, fazendo tudo ficar em inacreditáveis tons de vermelho. Mas toda essa beleza era triste, e ao invés de alegrá-la, fazia com que seu coração batesse angustiado, oprimido pelo peso insuportável da frágil condição humana. Aos poucos, a noite chegou, e com ela a lua, enorme e vermelha como se sangrasse, como se chorasse sangue pela terra arrasada, e seca. Sua claridade foi invadindo tudo, e o pó dançava na sua luz num balé macabro.

Abandonou a janela e deixou que a melancolia guiasse seus passos pelo palácio vazio, completamente iluminado pela lua. Seus pensamentos vagavam intranquilos por lugares que não costumavam visitar. Por fim encontrou-se no meio do pátio interno, onde outrora havia um jardim de beleza incomparável. Viajantes vinham do mundo todo, inclusive das terras de além mar, apenas para contemplá-lo, e agora dele não restava nada, a não ser terra seca e pó fino. Parada ali, no meio do antigo jardim, percebeu finalmente toda a extensão de sua miséria, e se rendeu.

Caiu de joelhos na terra, miserável e seca como ela mesma. Fora outrora orgulhosa e bela, a própria promessa da fertilidade, e agora nada lhe restava. O seu orgulho se fora, bem como as nuvens do céu. Agarrou um punhado de terra entre as mãos e sentiu ela se esfarelar entre seus dedos, se transformar naquele maldito pó fino que cobria tudo. Deixou-o escorrer de volta ao chão, e espalmando as duas mãos sobre o solo ressequido, se entregou. Desistiu por completo de todas suas pretensões, de todo seu orgulho, e chorou. A pele se agarrava àquela lágrima solitária que escorria avermelhada sobre ela, ultimo resquício de umidade que o pó ainda não devorara. Esta, por fim, rolou pelo seu rosto até o queixo, e mergulhou em direção aos braços abertos que a terra seca lhe estendia. Deixou-se cair, como a mesma lágrima, e ali caída alimentou a terra com suas lágrimas até adormecer.

E foi como num sonho que a lua foi se recolhendo entre duas nuvens até desaparecer, e o balé macabro do pó ao luar parou. Ele foi lentamente caindo sobre a terra, como esperando o que estava para acontecer, como o viajante que volta para o lar depois de anos de interminável vagar. A noite foi ficando cada vez mais escuras, e os poucos raios de luz que passavam entre as nuvens foram ficando cada vez menos e menores, até que a escuridão se fez total. E era como se a própria morte houvesse chegado com a suave brisa, escura e silênciosa como pantera. Mas era a vida quem chegava, e se precipitava das nuvens veloz e ansiosa para tomar de volta o que era seu, e se entregar aos seus súditos. Caiu em silêncio, mas não foi em silêncio que entregou suas dádivas. A primeira gota a reclamar a terra como sua o fez com estrondo, bem como suas irmãs, e juntas reclamaram posse de cada beco, ruela e jardim, até chegar ao pálacio.

Desceu dos céus com majestade, e a tomou nos seus braços fortes de tormenta. Com mil beijos suaves a acordou, e para sua delícia, foi molhando cada milímetro de sua pele, cada poro sedento de seus carinhos, percorrendo cada dobra de pele com seu toque gentil. Ela abriu seus braços e se entregou às suas carícias, deixando a água escorrer pelas suas pernas com vigor, e escorregar entre os dedos dos pés em direção à terra sedenta. Ficou ali sentada, sentindo seu toque firme e gentil massagear a sua carne. A água logo encharcou seus cabelos, e escorreu pelo pescoço até o peito. Se aninhou nos seus seios como uma criança, brincou um pouco e deslizou entre eles até o seu umbigo. Ela arrancou o vestido e deixou-se molhar inteira, em cada recôndito de seu corpo sedento. Com as mãos percorria seu corpo, ajudando a alcançar onde ainda não havia sido tocada por seus afagos. Brincaram e dançaram juntos a noite inteira, ali mesmo na terra agora molhada do jardim interno. Não houve pedaço do seu reino que não tivesse sido saciado em sua sede e se até então conhecera o que era a miséria, agora por fim conhecia o gozo, e nunca mais deixou de se entregar a ele, dançando nua no jardim que nunca mais ninguém viu, só ela e a chuva.

sábado, 10 de janeiro de 2009

A queda de Lúcifer

Queria ainda poder chamar-te senhora.
Banquetear com o sangue dos vivos
e banhar-nos em germânico leite de virgens.
Passear contigo pela cidade enluarada
e ouvindo os anjos estúpidos a vigiar
arrastarmos pés entre as folhas secas.
Rogo, abra as asas, minha senhora!
Amemonos como dois passaros pelo céu,
pois foi por ti que dele me precipitei,
foi por ti que a estrela se apagou!
Para estar entre teus braços
abandonei os meus tesouros,
e ergui um reino sob os teus pés.
Eu renego as maldições do alto,
para poder estar do teu lado,
e passear pela noite da cidade
como teu vassalo e senhor.
Mas aqui estou derrotado,
vencido frente a teu corpo,
por uma cruz enterrada em ti.