quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Can't take my eyes off you

Lá fora chove. A água cai do céu de uma forma que assustaria alguem que não conhecesse a chuva. Pingos grossos e fortes caem violentamente, ricocheteando no chão de asfalto e escorrendo pelas bordas da rua. As pessoas correm apressadas com seus guarda-chuvas pretos e coloridos, e suas capas e suas botas e em alguns casos, suas roupas molhadas. As portas se abrem de par em par, e mais uma figura encolhida entra no recinto, sacudindo inútil e esperançosamente a água dos ombros e braços, como se isso fosse deixa-lo mais seco. Por fim contenta-se. Levanta os olhos e procura sem resultados algum lugar vago. Senta-se então ao bar para esperar. Pede com um gesto uma bebida forte qualquer e ali fica, absorto em seus pensamentos. Nos seus ouvidos ecoa, cada vez mais presente, o som de uma canção familiar.
"You're just too good to be true..."
Ele ouve e solta o ar violentamente pelo nariz, mantendo a boca fechada, numa manifestação bem conhecida de ironia e sarcasmo. Seus olhos procuram no infinito uma reminiscência, uma imagem qualquer.
"Can't take my eyes off you..."
Teria sido diferente, se pergunta, caso não tivesse tirado os olhos dela? teria ela ficado se não fosse tão distante? Ou teria o destino conduzido tudo inevitavelmente para o mesmo fim? São perguntas que nunca serão respondidas, e ele tem consciência disso, mas não consegue evitar pensar nisso, os olhos fixos no resto amarelado ao fundo do copo.
"You'd be like heaven to touch, I wanna hold you so much..."
O bartender enche o copo de novo, complacente com aquela figura desconhecida, mas costumeira. Não o olha, mas sabe que tipo de pensamentos rolam nas ondas tempestuosas da memória. Já viu muitas vezes os mesmo olhos tristonhos e perdidos, em muitos semblantes, sempre a mesma dor, sangrando por dentro por motivos vários. E ele, pensa na pele macia que seus dedos acariciaram durante horas intermináveis, que o enlouquecia ponto de querer arrancar os olhos, para sentí-la apenas com o tato. Como se fosse uma maldita escrita em Braille. Lá fora a chuva cai. E a música corre como as memórias no seu pensamento.
"Pardon the way that I stare..."
As unhas curtas da mão direita arranham levemente o tampo do balcão, a esquerda no copo e os olhos em lugar algum. Ela costuma rir e perguntar o que tanto olhava. Ele sorria e respondia: "você". Ela pedia que parasse, ele concordava, mas logo estava olhando de novo. Perscrutando cada centímetro dela, cada onda e reflexo do cabelo, cada curva do seu rosto. Não podia parar, nunca conseguia, apenas ficava ali hipnotizado pela sua alegria.
"There's nothing else to compares..."
Realmente. Nada, nem ninguém podia ser comparado. Sua unicidade era uma verdade absoluta. Nada chegava perto de ser comparado. O resto do mundo parecia fosco e desfocado desde que a conhecia. O único brilho era ela, o centro do universo. Ninguém mais existia sequer. Só ela.
"The sight of you makes me weak..."
Riu. O mais próximo de uma palavra que dissera até então. Se alguma vez fora forte, foi com ela ao seu lado. Mas agora percebia o quanto tinha sido fraco. Cada vez que a via era como se todas suas defesas deixassem de existir. Uma cidade sem muros, uma casa sem cerca. Uma rosa sem redoma, apenas espinhos para proteger dos tigres.
"There are no words left to speak..."
Nunca pode explicar com palavras o que sentia. Tentava e tentava, mas não conseguia. As palavras secavam em sua boca, antes que as pudesse dizer. Teria que ser o melhor poeta de todos os tempos para encontrar uma forma de dizer o que corria dentro de sua alma.
"I love you baby, trust in me when I say..."
Como a amara. Nunca amara ninguém dessa forma. Quiçá nunca amara realmente até aquele dia quando pousou sua mão sobre a dela. Jamais saberia. O que é o amor? Agora nunca saberia. Esqueceria. Alguma coisa apertava e amargava no seu peito. Sentia-se rasgado por uma dor que nada curaria.
"Oh, pretty baby, now that I found you, stay
And let me love you, baby.
Let me love you..."
Repetiu o último verso, imaginando mil razões que não lhe permitiram a amar. Mas a verdade, se existe tal coisa, é que ela agora queria outro amor, não o dele. Colocou uma nota velha e amassada embaixo do copo, a música ainda ecoando em seus ouvidos cansados, e com os olhos cheios de ontem, abriu as portas de par em par e saiu.
Lá fora ainda chove.

Pablo Neruda - Poema XX

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Escribir, por ejemplo: "La noche esta estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos".

El viento de la noche gira en el cielo y canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.

Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

Oír la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.

Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche está estrellada y ella no está conmigo.

Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.

Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

Porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.

Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.

Bob meets The Beatles


Holy shit again!

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Sid and Nancy



holy shit! É uma das coisas mais engraçadas q eu já vi na história do punk rock!!

JACQUES BREL - NE ME QUITTE PAS

 Jacques Brel - Ne me quitte pas


ou tente ouvir a música aqui

Ne me quitte pas
não me deixes
Il faut tout oublier
é preciso esquecer tudo
Tout peut s`outblier
tudo pode ser esquecido
Que s`enfuit déjà
o que nos escapa
Oublier le temps de malentendus
esquecer o tempo dos mal-entendidos
Et le temps perdu
e o tempo perdido
À savoir comment
procurando saber como
Oublier ces heures
esquecer estas horas
Que tuaient parfois
que às vezes matam
Á coups de pourquois
com golpes de " porquês"
Le coeur du bonheur
o coração da felicidade
Ne me quitte pas
não me deixes

Moi, je t`offrirai
eu te oferecerei
Des perles de pluie
pérolas de chuva
Venues du pays
vindas de um país
Où il ne pleut pas
onde não chove
Je croiserai la terre
atravessarei a terra
Jusque près ma mort
até perto de minha morte
Pour couvrir ton corps
para cobrir teu corpo
D`or et de lumière
de ouro e luz
Je ferai un domaine
eu farei um lugar
Où l`amour sera roi
onde o amor será rei
Où l`amour sera loi
onde o amor será lei
Et tu sera reine
e tu serás rainha
Ne me quitte pas
não me deixes

Ne me quitte pas
não me deixes
Je t`inventerai
eu te inventarei
Des mots insencés
palavras insensatas
Que tu comprendras
que tu compreenderás
Je te parlerai
vou te falar
De ces amants là
desses amantes
Que ont vu des fois
que às vezes viram
Leurs coeurs s`embraser
seus corações se incendiar
Je te raconterai
vou te contar
L`histoire de ce roi
a história desse rei
Mort de n`avoir pas
morto por não ter
Pu te rencontrer
podido te encontrar
Ne me quitte pas
não me deixes

On a vu souvent
tantas vezes vimos
Rejaillir le feu
renascer o fogo
De l`ancien volcan
do antigo vulcão
Qu`on croyait trop vieux
que acreditava-se velho demais
Il est, paraît`il
parece que tinha
Des terres brulées
terras queimadas
Donnant plus de blé
dando mais trigo
Qu`un meilleur avril
que a melhor colheita
Et comme bien des soirs
pois, em quantas tardes
Pour qu`un ciel flamboie
para que o céu fique flamejante
Le rouge et le noir
o vermelho e o negro
Ne s`épousent t`il pas ?
não se casam ?
Ne me quittes pas
não me deixes

Ne me quittes pas
não me deixes
Je ne veut plus pleurer
eu não quero mais chorar
Je ne veut plus parler
não quero mais falar
Je me cacherai là
vou me esconder ali
À te regarder
só te olhando
Danser et sourire
dançar e sorrir
Et à te écouter
e te escutando
Chanter er puis rire
cantar, e depois rir
Laisse moi devenir
deixe que eu me transforme
L`ombre de ton ombre
na sombra da tua sombra
L`ombre de ta main
na sombra da tua mão
L`ombre de ton chein
ou na sombra do teu cão

Ne me quitte pas
mas não me deixes
Ne me quitte pas
não me deixes
Ne me quitte pas
não me deixes

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

EM ALGUM LUGAR DO PASSADO - SOMEWHERE IN TIME

Acabo de assistir "Em algum lugar do passado" (Somewhere in time - 1980), adaptação para o cinema da obra de Richard Matheson, Bid time return. Não sei se é pela atual conjuntura da minha vida ou o que, mas me emocionou até as lágrimas. É uma história de amor correspondido, mas sofrido, como não se faz hoje em dia. È um romance á moda antiga, como Doutor Jivago. Hoje se fala em filme romântico e todo mundo pensa nas chamadas comédias românticas. Não que eu não goste, mas ... Enfim, apesar do enredo de ficção cientifica da sessão da tarde - homem volta no tempo para encontrar o amor da sua vida - o filme é uma história bem tradicional. E com uma trilha sonora fodástica, com direito a rápsodia do Rachmaninoff e tudo. Muito bom, recomendo a quem gosta de histórias de amor. Aliás, recomendo a quem gosta de cinema.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

SINÉAD O'CONNOR - NOTHING COMPARES TO YOU



SINÉAD O'CONNOR - NOTHING COMPARES TO YOU

It's been seven hours and fifteen days
Since you took your love away
I go out every night and sleep all day
Since you took your love away
Since you been gone I can do whatever I want
I can see whomever I choose
I can eat my dinner in a fancy restaurant
But nothing
I said nothing can take away these blues
`Cause nothing compares
Nothing compares to you

It's been so lonely without you here
Like a bird without a song
Nothing can stop these lonely tears from falling
Tell me baby where did I go wrong
I could put my arms around every boy I see
But they'd only remind me of you
I went to the doctor n'guess what he told me
Guess what he told me
He said girl u better try to have fun
No matter what you'll do
But he's a fool
`Cause nothing compares
Nothing compares to you

all the flowers that you planted, mama
In the back yard
All died when you went away
I know that living with you baby was sometimes hard
But I'm willing to give it another try
Nothing compares
Nothing compares to you
Nothing compares
Nothing compares to you
Nothing compares
Nothing compares to you

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Broken heart again

E assim é, a vida segue seu curso natural. As pessoas se encontram, se conhecem, se apaixonam, e no meu caso chegam a este estágio. Coraçãozinho sempre parece que não vai mais aguentar. Mas eles sobrevive. Então, assim é, cá estou eu de novo com o coração espatifado em milhares de pedacinhos. Se vc acha que pode curar minha dor, costurar meu coração e o deixar pronto pra outra, deixe aqui o seu currículo. Como sei que vc provavelmente não existe e é apenas uma ilusão criada pelo meu cérebro solidário com a dor do coração, não vou deixar nenhum telefone de contato. Obrigado pela atenção.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

THE PRETENDERS - I'LL STAND BY YOU


Oh, why you look so sad?
Tears are in your eyes
Come on and come to me now
Dont be ashamed to cry
Let me see you through
cause Ive seen the dark side too
When the night falls on you
You dont know what to do
Nothing you confess
Could make me love you less

Ill stand by you
Ill stand by you
Wont let nobody hurt you
Ill stand by you

So if youre mad, get mad
Dont hold it all inside
Come on and talk to me now
Hey, what you got to hide?
I get angry too
Well Im a lot like you
When youre standing at the crossroads
And dont know which path to choose
Let me come along
cause even if youre wrong

Ill stand by you
Ill stand by you
Wont let nobody hurt you
Ill stand by you
Take me in, into your darkest hour
And Ill never desert you
Ill stand by you

And when...
When the night falls on you, baby
Youre feeling all alone
You wont be on your own

Ill stand by you
Ill stand by you
Wont let nobody hurt you

Ill stand by you
Take me in, into your darkest hour
And Ill never desert you
Ill stand by you
Ill stand by you
Wont let nobody hurt you
Ill stand by you
Wont let nobody hurt you
Ill stand by you



Preciso te dizer mais alguma coisa?

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

CARTA PARA UMA AMIGA AO LONGE

As vezes olho algumas fotografias, pra me lembrar que você é real. O retrato de sempre acaba te prendendo numa moldura, engessando quem você é. Por alguns momentos parece que é só isso. Só o sorriso maroto com o mar ao fundo.
Então quando vejo as fotografias me lembro um pouco mais de quem és. Pequenos detalhes, um pé sujo aqui, um barril de chop ali, e quase sempre o sorriso. Teu desprendimento e a importância que as pequenas lembranças parecem ter para ti, podem gritar em antagonismo, mas ali, naquele pedacinho de luz congelada, estão em harmonia.
As paisagens mais lindas são teu cenário, e eu não consigo saboreá-las, porque pra mim são sempre tuas fotografias, e só você existe nelas. A única estrela de uma estória fantástica. E pra mim só há a areia porque teu pé a pisa, só existe o vento porque teu cabelo voa, toda luz vem dos teus olhos, todo personagem é você e o que sinto ao longe.
Quando vejo essas fotografias tenho vontade de te sentar ao pé do mar e te falar de coisas belas, te contar do amor e da flor, te levar pra ver a nuvem, o brocóli e a neve, os olhos tristes de um cão que espera o amigo e o sorriso do cego que vê tudo isso melhor que nós. Quero te mostrar como o mundo pode ser lindo e como toda dor pode ser poesia. Tenho vontade de molhar meus pés nessa areia que carrega teu peso, sentir o vento que massageia teus cabelos, ao teu lado, mãos dadas em silêncio e quietude.
Quando o tempo torna a distância tão presente, são esses detalhes que me fazem sentir te menos ausente. Acolá teus cabelos molhados. Teus cabelos. Sua imagem me lembra seu cheiro. O cheiro me lembra teus abraços, e assim vou, me perdendo em fotografias, teu sorriso assassinando minha dor, sangrando minha saudade pra que eu possa viver mais um dia, mais algumas horas sem acariciar tua pele, teu rosto, teu cabelo, até que chegue a noite novamente, e eu me deite a olhar tuas fotografias.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

REENCONTRO IMAGINÁRIO AO SOM DO NOTURNO EM MI BEMOL, OPUS 9, N°2, DE CHOPIN

ler ao som do Noturno em Mi bemol de Chopin. baixar aqui.
 
Chopin - Nocturne




As mãos caem, suaves e determinadas sobre as teclas do piano, enquanto nossos olhos se perdem no tempo. E assim como elas as nossas mãos também se juntam. Puxo-te em direção a mim, e nos abraçamos. Primeiro forte e depois mais suave, como a chuva que cai de repente. Minha mão corre pela tua cintura e as tuas pelas minhas costas. Você aninha tua cabeça no meu peito e fecha os olhos, e vamos assim, num suave balanço ao som da música, rodando pelo quarto que se transformou em salão. Você veste agora o vestido mais lindo e eu minha farda de gala. Nossos pés não sentem o chão, o atrito deixou de existir, só restamos você, eu e a música. Os convidados riem e aplaudem a graça da sua princesa, mas não os ouço, porque tua mão está dentro da minha feito um passarinho que caiu do ninho.

Você roda e ri, iluminando tudo ao seu redor com tua luz, com teu sorriso. Agora todos dançam ao nosso redor, as estrelas, os cometas, os mundos infinitos, ao som do piano, acompanhando os nossos passos pela galáxia. E então não existe mais nada, o universo inteiro somos nós e a música. Toda a energia concentrada num ponto, eu e você. E nós alheios a tudo isso, rodopiando pelo vazio. Fecho meus olhos e sinto teu coração bater no meu peito, apagando toda dor que a saudade um dia me trouxe.
Só existe no meu ser este momento, como se minha vida inteira houvesse vivido pra isso. Todos os meus erros , meus pecados, minhas pequenas mentiras, tudo conduziu a este momento,onde não existe mais dor nem sofrimento, só você, e eu, e a música.

E agora, somos só duas luzes vagando pelo infinito, uma só chama pra quem olhar de longe, um só coração pra quem ouvir de perto. Duas almas unidas pela música e por algo mais que ninguém pode explicar. Uma estrela. A única estrela. A estrela que deu origem a todas as outras. Viajando pelo cosmos, iluminando toda escuridão com nossa luz. Enchendo o espaço com o nosso calor. Nada mais existe, só nós e o nosso amor, a única estrela, a única luz. Eu, você, e a música. Seus olhos fechados ainda, sua respiração calma e suave, encostada no meu peito, num momento de ternura infinita, esperando que dure pra sempre, o que já vai acabar.

Pausa.

A música acabou. Abro os olhos e ainda consigo ver os teus. Num último relance, antes de tudo voltar ao que era, e à solidão.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

LOST - THE SYNCHRONIZING

Pra quem curte lost, taí um video interessante pra ver. Uma sincronização dos momentos que precederam a queda do avião. Muito bom. Deve ter dado um trabalhão.