escrito em são carlos em 09/04/06
Não posso dizer que te conheço.
Tão pouco sei e tanto gosto,
e ainda assim não te conheço.
Posso dizer que sei:
Seis mil quinhentos setenta e quatro dias atrás,
alguém que te tomou no colo
com ternura disse teu nome.
Mas não sei se quando despertas sorris,
ou se para outro lado tornas a sonhar.
Sei que duzentos dezesseis meses atrás
provocaste dor e júbilo,
mas talvez não saiba e apenas imagine,
assim como tantas outras coisas.
"Terias gostado de voar com santô?"
"Terias rido quando seu chapéu caiu,
e dando piruetas no ar te imaginaste?"
"Teria teu nome sido Ana,
ou por algum momento fernão?"
A interrogação é o que me resta,
e na floresta da memória
já não sei se não conheço
o som do teu riso,
ou se apenas não lembro.
Posso imaginar tanto,
mas não escrever versos tristes,
não hoje, não nesta noite. Pausa.
Corro ao quintal e volto.
Estrelas! Milhões delas !
Será que olhastes o céu hoje?
Outro passeio que não fizemos,
teremos tempo algum dia?
Lua crescente, um dia será cheia!
Tantas coisas para te dizer,
mas como tudo, ainda sementes.
Um poeta uma vez me disse
que a vida era uma piada
(infame por sinal).
Na história que me contou
aprendi que o destino prega peças,
e que não se deve confiar
nas palavras de estranhos,
menos ainda das Parcas.
Agora fico então a sonhar,
e estas palavras são
o mais próximo
que consigo chegar.
Fecho os olhos e revivo
passo por passo.
Me perco imaginando,
tentando descobrir
em não sei qual mar interior,
uma garrafa decifrando-te,
um relato babilônico qualquer
onde possa te conhecer,
tal qual é possível conhecer
as profundas Marianas.
Reavivo o fogo,
soprando devagar,
colocando aqui e ali um graveto,
quando faz-se necessário
Posso relembrar teu calor,
posso aquecer tua alegria,
posso aligeirar o peso dos olhos
apenas cerrando as pálpebras,
voltando quase incólume
a um passado desejável.
Mas não posso requentar
aquilo em ti que desconheço.
Tão pouco sei e tanto gosto,
não posso dizer que te conheço.
quarta-feira, 21 de maio de 2008
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